Diário da Serra
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Rafael Serafini de Araujo – Símbolo de dedicação, justiça, equidade e amor pela família, amigos e pelo próximo

Alexandre Rolim / Especial DS 16/05/2023 Memória

Ele empresta seu nome a um Centro de Treinamentos de Tangará

Memória

Símbolo de dedicação, justiça, equidade e amor pela família, amigos e pelo próximo

 

A série Memória de hoje faz homenagem ao jovem Rafael Serafini de Araujo, que foi um símbolo de compaixão, dedicação, justiça, generosidade e amor pela família, amigos e pelo próximo. Falecido em 2017, ele empresta seu nome a um Centro de Treinamentos localizado anexo ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Tangará da Serra, local onde o homenageado trabalhou entre 2010 e 2017. A irmã de Rafael, Gabriela, colaborou para que esta história fosse contada.

Rafael nasceu na cidade de São Paulo-SP, no dia 28 de abril de 1984, o caçulinha dos três filhos de Nilton José de Araujo e Terezinha Serafini de Araujo. Tem duas irmãs: Carolina Serafini de Araujo e Gabriela Serafini de Araujo. Quando ele tinha apenas três meses a família mudou-se para a cidade de São José dos Quatro Marcos, em Mato Grosso. Em solo mato-grossense ele teve uma infância comum, tranquila e cheia de tudo aquilo que toda criança gosta.

“Brincava na rua com os amigos, sempre muito carinhoso e generoso desde a infância, muito inteligente também, era peralta mas obediente aos pais e professores, sempre muito respeitador”,

conta a irmã, Gabriela.


Educação, sonhos, gentileza e generosidade

Rafael sempre foi dedicado a tudo o que fazia. Como profissão escolheu ser farmacêutico, se formando em 2008 peAdolescência: Rafael e as duas irmãsla UNIC Cuiabá. Antes, na infância, ele estudou na Escola Augusto Ruschi, em São José dos Quatro Marcos, até o terceiro ano do ensino médio. Depois começou a estudar Física na UFMT, em Cuiabá, mas após perceber que não era o que ele queria começou a estudar Farmácia.

“Rafael sempre sonhou em fazer a diferença, ajudar as pessoas, era apaixonado por animais, e tinha um senso de justiça muito forte, além de ser muito gentil e generoso”,

comenta orgulhosa a irmã.


Rafael e a família

A irmã de Rafael, Gabriela, conta que ele sempre foi um bom filho, carinhoso e obediente, mas muito peralta na infância, menino ativo que gostava de brincar na rua com os amigos.

“Como irmão ele era muito solícito, nem parecia ser o caçula da família porque ele gostava de cuidar de mim e da minha irmã como se fosse o irmão mais velho”,

relata Gabriela.

“Como esposo ele era apaixonado pela Deyse e foi o melhor pai que a Maria Luiza poderia ter, infelizmente ele faleceu quando a Maria Luiza tinha apenas 1 ano e 2 meses, porém o tempo que ele esteve com ela foi um ótimo pai”,

completa.


A vinda para Tangará da Serra, a esposa e a filha

Em 2010, o jovem Rafael Serafini de Araujo, com 26 anos, passou no Concurso Público do Governo do Estado de Mato Grosso e mudou-se para Tangará da Serra em dezembro do mesmo ano, onde foi lotado como farmacêutico no Centro de Detenção Provisória (CDP).

“Ele trabalhou da melhor forma possível, sempre respeitando os colegas e, principalmente, os reeducandos alocados no CDP. Ele realmente acreditava que o Sistema Prisional bem estruturado e bem administrado, poderia transformar e mudar a vida de quem havia cometido algo ilícito”,

relata a irmã, Gabriela.

Exercendo a profissão e construindo família, Rafael morou em Tangará até o ano de 2017.

“Quando mudou para Tangará ele ainda não era casado, mas em Tangará ele formou a família dele. Quando mudou ele já tinha uma namorada que era de Várzea Grande, mas fazia faculdade em Barra do Bugres, e não demorou muito para eles morarem juntos em Tangará”,

conta Gabriela.

A partir de então, Rafael viveu em união estável com Deyse Fernandes da Silva, com quem teve uma filha, Maria Luiza Silva Serafini, que completa 7 anos no dia 14 de junho de 2023.


Aos 4 anos queria morar na árvore da praça

Quando tinha quatro aninhos de idade, Rafael levou uma bronca da mãe e ficou muito chateado, foi até o quarto, pegou quatro cuecas e disse que sairia de casa e morar em cima de uma árvore da praça da cidade de São José dos Quatro Marcos.

“Minha mãe perguntou se ele iria ter o que comer e ele disse que comeria castanha que dava na árvore, embora a árvore não era frutífera nem nada disso, mas ele não sabia, então minha mãe viu ele saindo de casa com as quatro cuecas, mas em menos de uma hora ele voltou pra dentro de casa”,

conta a irmã, Gabriela.


Deu a blusa de frio para homem em situação de rua

A família relata que Rafael sempre foi uma pessoa muito generosa e há várias histórias que confirmam isso.

“Uma vez estava fazendo dias de frio, e um dia ele chegou em casa onde eu, ele e minha irmã morávamos em Cuiabá, chegou sem a blusa de frio dele e sem camiseta, e ao ver aquilo perguntei o que havia acontecido. Ele respondeu que havia um homem em situação de rua só de short, passando frio e ele deu as roupas do corpo para este homem. Depois ele ainda separou mais roupas que ele não usava para entregar”,

conta Gabriela. 

“Além dessa história existem várias outras, ele sempre ajudava de alguma forma as pessoas que pediam ajuda a ele sem questionar, sem julgar, sem duvidar”,

continua.

“Uma vez ele precisou vir até Cuiabá com os agentes prisionais e alguns presos, e um dos colegas dele me contou que um dos policias, que também estava junto, disse que nunca viu uma pessoa tratar todo mundo de forma igual, sem distinção, como o Rafael tratava, e que a partir desse dia ele aprendeu a ser mais paciente, tolerante e menos preconceituoso. Esse relato foi me contado por esse colega no dia do enterro dele”,

completa a irmã.


Carismático e dedicado aos amigos

Como amigo Rafael era muito querido e carismático, por onde passava fazia amizades verdadeiras e eternas. A família conta que ele tinha muitos amigos em São José Quatro dos Marcos, em Cuiabá (onde fez a faculdade) e em Tangará (onde morou por quase 7 anos).

“Sempre muito solícito, pau pra toda obra como dizem. No velório dele tinha muita, mas muita gente, pessoas vindo de vários lugares, inclusive amigos que moravam em Rondônia na época, foram até Quatro Marcos para o velório e enterro dele, e por tanta gente vindo nos dar conforto, o velório dele, apesar de triste, foi um momento de boas lembranças e risadas, amigos contando muitas coisas sobre ele”,

relata Gabriela.

“Ele era muito carismático, muito dedicado aos amigos, familiares, no trabalho também. Sempre conviveu muito bem entre os seus”.


O que era mais importante na vida dele?

Os familiares de Rafael contam que o mais importante na vida dele era a família e os amigos, principalmente a filha, com quem ele viveu por pouco mais de um ano, mas viveu intensamente.

“Ele tinha um amor enorme pela filha dele, a Maria Luiza. Ser gentil, generoso e justo era o que mais importava pra ele, sempre foi assim desde criança, nasceu dessa forma, com essa índole boa”,

conta Gabriela, relatando que o irmão não tolerava injustiça.

“Se ele errasse, ele sempre assumia sua responsabilidade e faria de tudo que fosse possível para consertar o que era de seu alcance”,

diz.


A morte precoce de Rafael Serafini de Araujo

Quando tinha 32 anos, Rafael foi diagnosticado com um câncer de medula chamado Mieloma Múltiplo. O diagnóstico saiu entre março e abril de 2016, quando ele residia em Tangará da Serra e trabalhava como farmacêutico no CDP.  O Mieloma Múltiplo é considerado um tipo de câncer raro para idade que Rafael tinha na época. Essa doença acomete com mais frequência pessoas idosas e não tem cura. O que há é apenas tratamento para aumentar perspectiva de vida do paciente.

A irmã conta que Rafael precisaria de um transplante de medula autólogo (quando é feito pelas próprias células-tronco), ou heterólogo (quando é de um doador).

“Ele fez quimioterapia e respondia muito bem ao tratamento, que começou em Cuiabá, mas conforme o tempo foi passando ele teve recaídas e várias complicações ao longo do tratamento, inclusive paralisia renal. Nessa época ele continuou o tratamento em Curitiba”,

conta Gabriela.

Em dezembro de 2016, colegas de Tangará da Serra fizeram um mutirão para doar sangue e plaquetas para Rafael e, nesse ínterim, as duas irmãs, Carolina e Gabriela, descobriram ser 100% compatíveis a medula de Rafael e um transplante chegou a ser marcado, porém, nunca aconteceu.

“Infelizmente, pela agressividade da doença, ele teve um derrame que impossibilitou o transplante no momento que tava marcado para acontecer, entre os dias 10 a 18 de agosto de 2017”.

O jovem Rafael, com 33 anos, teve uma infecção generalizada, pois seu sistema imunológico estava baixo, e ele foi a óbito no dia 25 de agosto de 2017, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba-PR. Seu velório e sepultamento ocorreram em São José dos Quatro Marcos.


A HOMENAGEM

Pouco mais de um ano após sua morte, Rafael recebeu homenagem póstuma. Em 20 de outubro de 2018 foi inaugurado o Centro de Treinamento Rafael Serafini de Araujo, localizado anexo ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Tangará da Serra, na região do bairro Alto da Boa Vista. No local, servidores do Sistema Penitenciário que atuam em Tangará da Serra tem espaço para realização de treinamentos, instruções e atividades físicas. O Centro conta com academia ao ar livre, pista de caminhada, local para reuniões e treinamentos, campo de futebol e vestiários.

Para a família, a denominação do local em homenagem a Rafael vem confirmar aquilo que sempre acreditaram, que ele é um cidadão estimado, querido e dedicado.

“A escolha do nome dele para o Centro de Treinamento com certeza se deu pelo fato de ele ser um ótimo funcionário, muito responsável com as suas atividades e muito querido entre os colegas. A convivência dele entre os colegas, pelo que me relataram, sempre foi de muita harmonia e respeito, e ele fez amigos verdadeiros no local em que trabalhava”,

destaca a irmã.

“O Rafael deu e recebeu muito carinho por onde ele passou. Sempre tinha uma palavra amiga, sempre uma atitude de justiça, compaixão, generosidade e amor para as pessoas”,

finaliza.



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