Diário da Serra
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Maria Alzira, Espelho de vida

Iolanda Garcia e Rodney Garcia 02/05/2019 Memória

Sob seus valores - a fé, a esperança e a lealdade – entre tormentas a calmarias, celebra a vida, cultiva o sonho e semeia a unidade na diferença

Maria Alzira Viana do Nascimento

“Maria, Maria, acolher e ensinar”


Maria Alzira Viana do Nascimento, natural do Paranavaí - PR, nasceu em 06 de maio de 1951. É a terceira Filha do casal Eliezer Gomes Viana e Yolanda Teixeira Canudo Viana, têm 12 irmãos. 


No ano de 1970, casou-se com Francisco Bernardo do Nascimento, mãe de oito filhos, e vó-genitora de 16 netos. Agregou noras e genros e como matriarca, sabe, como poucas, acolher, aconselhar e chamar atenção. Sob seus valores - a fé, a esperança e a lealdade – entre tormentas a calmarias, celebra a vida, cultiva o sonho e semeia a unidade na diferença.


Dona Alzira, como é conhecida, lembra que sempre teve que labutar para viver “eu comecei trabalhar muito pequena para ter alguma coisa para mim; lá no Paraná fui babá, doméstica, costureira. Depois que me casei, passei a cuidar da casa e das filhas, até vir embora para Mato Grosso  em 1975,  ano da grande geada no Paraná. Meu marido veio primeiro e fiquei até ganhar a quarta filha, porque estava nos últimos meses de gestação e não podia fazer essa longa viagem”. 


A primeira moradia no estado foi na cidade de Barra do Bugres, onde já morava a família do esposo, lá teve mais um filho. Em 1976 decidiram mudar para Tangará da Serra para trabalhar como meeiro, abrindo sítio para outras pessoas na comunidade Pé-de-galinha. Dona Alzira lembra que gastaram muitas horas de viagem e, quando estavam subindo a serra Tapirapuã, o caminhão perdeu o freio e começou a voltar, só parou depois que foi calçado com pedras pelos homens que estavam na carroceria. “Eu pensei em pular com as crianças que estavam comigo na cabine, mas a porta era amarrada com corda, pelo lado de fora. Graças a Deus, não aconteceu o pior”. Conseguiram chegar quase de madrugada no sítio “poucos metros antes de chegar à casa [toda de mulungu, coberta de tabuinha e com muitos buracos], o caminhão atolou e o jeito foi chegar a pé. As crianças choravam com sede e pedi para meu esposo voltar até o caminhão e pegar um balde com um corda para tirar água do poço. Acontece que, ao organizar a mudança, alguém colocou lamparinas com querosene dentro balde. Meu esposo não viu que tinha derramado e, ao jogar o balde no poço, toda água ficou com gosto de querosene; impossível de beber. O jeito foi dormir com sede e fome. No outro dia bem cedinho, fui pedir ajuda na casa de uma vizinha para preparar mamadeira”, disse dona Alzira.


“Moramos nesse casebre até meu esposo fazer a derrubada, retirar madeira para construir nosso novo barraco. Ajudei a passar barro em todas as paredes, a casa ficou parecendo de alvenaria, passei barro argiloso no chão, ficou uma casa linda, simples, mas linda!” Dona Alzira morou na mesma região durante quase vinte anos, lá teve mais três filhos, formando uma família com oito filhos. “Fui morar no sítio e fiquei muitos anos sem vir aqui na cidade, de lá só vinham os homens quando precisava comprar alguma coisa. Eles vinham em um caminhão e traziam muitas enxadas, enxadões porque passavam mais tempo desatolando o caminhão na estrada do que na cidade, teve vez que eles gastaram oito horas para percorrer um trecho de 15 km”. 


“A cidade, as poucas vezes que eu vinha, lembro-me que a prefeitura municipal era de madeira na Praça da Bíblia, o ponto de ônibus era o Bar Iguatu e a rodoviária ficava próximo ao posto Tanaka. Eu comprava tecido na Loja São Marcos, que era feita de madeira, próxima à praça. E as poucas coisas que comprávamos para alimentação eram na Comercial Ivair, secos e molhados. A farmácia que nos atendia era a Santo Antônio, o proprietário era seu Antônio, pai do doutor Marcos.”


No Pé-de-galinha, dona Alzira cuidava de casa, ajudava na roça, era costureira e gostava de ajudar na comunidade Acampamento, que frequentava. “Eu gostava muito de ir aos domingos assistir jogo de futebol, fazia muita torcida, gritava muito, era divertido”. Na comunidade, gostava de rezar terços; e, todos os anos em sua residência, reitera sua fé em Nossa Senhora Aparecida e Santa Luzia, em agradecimentos às graças recebidas e movida pela devoção e fé que a fortalece.


Alzira trabalhou como professora leiga na escola municipal “Costa e Silva,” no Pé-de-galinha e teve que deixar a profissão porque só tinha a quarta série, e o marido não permitiu que ela continuasse estudando para trabalhar.


Em 1981, passou a fazer merenda e a cuidar da escola, quando a mesma era extensão da Escola Estadual Emanuel Pinheiro, trabalhando lá por três anos; e mais dois anos na cidade, quanto acabou a extensão.


Desafiando as limitações geográficas e financeiras, fez o curso de atendente de enfermagem 1989 e passou atuar no Posto de Saúde que abriu no Pé-de-galinha. No exercício de sua função fez sutura, injeções, medicou, consultou e aconselhou a população que  a procurava, paralelo a isso fez o curso de Auxiliar de enfermagem em 1997.


No ano de 2004, mudou-se para a cidade e continuou os estudos, indo para a escola junto com os filhos, trabalhando e cursou Técnico de Enfermagem que concluiu, em 2005. “Aqui em Tangará ajudei a organizar alguns postos de saúde, comecei no Posto de Saúde da Vila Alta, depois Vila Esmeralda, Vila Horizonte, Araputanga, Santa Lucia, Alto da Boa Vista e, por fim, fui trabalhar na Unidade Mista de Saúde até dia 08 de agosto de 2013, ano que me aposentei”.
Dona Alzira sempre gostou de gente e trabalhos comunitários. Coordenou, por muitos anos, a Pastoral da Criança da Vila Esmeralda, ajudou na catequese. Cozinhava nas quermesses da igreja da Vila Esmeralda e festas de exposição, na barraca do Frango no Rolete.


Pela dedicação que teve a essa cidade, recebeu homenagem da Prefeitura e da Câmara Municipal de Vereadores. 

 


Sempre com entusiasmo, mantem a jovialidade e a coragem de viver bem todos os dias. É querida pelos familiares, parentes e uma infinidade de amigos que conquistou com sua bondade, seu sorriso e alto astral. Em sua residência não faltam visitas e nem o cafezinho acompanhado guloseimas e doces. 


Tangará da Serra representa tudo para mim. Tudo que tenho, que vivi; foi aqui que consegui criar meus filhos: Iolanda Cristina; Dalva Cristiana; Cleusa Aparecida; Cleide Lourdes; Eliezer Bernardo; Elias Francisco; Elizeu Batista e Ana Cléia, hoje todos são bons profissionais.


O grande sonho de dona Alzira era se aposentar e dedicar à vida como costureira. Porém, ainda não foi possível realizar totalmente. Ela passou a ser cuidadora do esposo, seu Franco, que está totalmente debilitado e precisa de cuidados. “É uma luta árdua, porém tenho uma família abençoada que me ajuda todos os dias. Sou muito grata a todos familiares e amigos que me apoiam e ajudam todos os dias de minha vida”.


Dona Alzira não para um minuto, sempre brincou com os netos e netas ensinando-lhes diferentes brincadeiras, e algumas artes também. Como terapia faz pintura na oficina do centro cultural, aerodance com a comunidade escolar Dom Bosco, faz algumas costura para a família e as Bonecas Pretas de roupa de chita. “Me faltam horas no dia para tanta coisa que quero fazer e ensinar tudo o que aprendi”, diz ela com muita alegria.



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