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José Raimundo de Almeida: caiu uma vez, mas levantou cem

Redação DS 07/04/2018 Memória

José Raimundo de Almeida chegou ao ainda Distrito no ano de 1970

Memória

Assim como a maioria dos pioneiros e desbravadores da ainda em formação Tangará da Serra, a história de José Raimundo de Almeida não é nada diferente.
Chegou ao ainda Distrito no ano 1970, fugindo da fome e buscando perspectivas mais alvissareiras, já que infelizmente sua vida não havia sido fácil até ali.
Nascido em uma família grande, era o mais velho e por isso, aprendeu muito cedo o peso da responsabilidade por ter que ajudar na lida e consequentemente a criar os irmãos mais novos.
Nasceu em Aurora, no sertão do Ceará, que segundo informações do filho, João de Almeida, que narra a história, era muito seco e de pouquíssimas oportunidades.
Quando tinha por volta de 14 anos, toda a família decide se mudar para Alto Sorocabana, estado de são Paulo.
Durante a viagem, a família sofre um grande golpe, é roubada na rodoviária e fica sem nada do que já era tão pouco, carecendo de ajuda de populares para chegar ao destino final.
Ali, tocavam roça em terras arrendadas e nessa região, conheceu sua companheira de toda a vida, Maria, que inclusive, era sua prima.
O namoro evoluiu e se casaram quando ela tinha 14 anos, sem objeção alguma da família, uma vez que o casamento entre famílias era normal.
Após o casamento, o casal se mudou para Tuneiras D’Oeste e ali José percebeu que a venda de hortelã era grande. Sem estudo algum, pois somente escrevia o nome, que aprendeu depois de se casar, pelas mãos da esposa, curioso e visionário que era, decidiu investir no negócio também. “Na época o hortelã era um produto que dava muito dinheiro e meu pai que era muito trabalhador montou um alambique de hortelã e passou a comprar dos vizinhos, sendo inclusive, cooperado em uma cooperativa. Me recordo, ainda criança, naquele tempo ninguém mexia com banco, que ele trazia o dinheiro em pacotes, caixa de sapatos, onde a gente via aquelas notas de mil cruzeiros. Trazia para fazer os pagamentos e era muito dinheiro, que as pessoas até enterravam com medo de alguém roubar”, relembra João.

O homem sem leitura, que lia oportunidades

Com o fracasso do hortelã, que depende de terra nova para se desenvolver, conseguiu comprar um sítio  e soube do início da cidade de Cascavel, vendeu o sítio e ali comprou uma fazenda. Mas infelizmente a área foi desapropriada e doada aos ex combatentes de guerra, o que mais uma vez, fez com que a família ficasse sem nada.
Agora com os oito filhos para sustentar: Maria, Antonio, João, Terezinha (in memorian), Neuza, Alcidino, Raimundo e Sérgio.
“Perdemos a fazenda que a família nem chegou a conhecer. Só o pai mesmo que ia para lá”, comenta.
O que restou foram dois lotes na cidade que havia comprado, que foram vendidos para amenizar a situação.
“Ali o sofrimento foi grande naquele paranasão, no frio”.
Depois dessa catástrofe, a família retorna e começa a trabalhar de arrendatário no sítio que havia vendido, quando por cerca de três anos houveram momentos críticos. “Minha mãe muito jeitosa, ia na cidade e comprava aquelas fazendas de tecidos e fazia roupa para todo mundo, tudo da mesma cor”, relembra o filho.
Pelas amizades que teve na época da cooperativa, José Raimundo conseguiu maquinários, tocados com animais e partiu para o algodão, conseguindo assim, comprar de volta o sítio e além dele, arrendar outro ao lado, onde plantava amendoim e algodão, que depois de uns anos também entrou em declínio.

Um cearense sábio de conselhos requisitados

Nessa época, ouviu falar de Tangará e viajou para conhecer. Chegou no ainda Distrito em 1970 quando o que imperava por aqui era muita dificuldade. “Meu pai se encantou com a cidade e levou daqui maracujás enormes e como vendedor de imóveis, decidiu aqui comprar terras para reiniciar a vida. Mas, quando tudo estava arrumado, começou a epidemia da febre, quando muitas pessoas morreram, o que impediu a mudança de imediato. Ele continuou vendendo terras e trazendo gente para Tangará”, conta o filho bastante emocionado. “Meu pai tinha um ditado: Onde tiver asfalto eu mudo”.
Após um tempo, mais precisamente quase em 1972,  a família muda-se e adota a filha Eliane. Mas ao conhecer a terra que havia comprado, não gosta e opta por uma na Água Branca. Ali começa novamente do zero, sendo uns dos primeiros a entrar na região.
A família ficou um bom tempo por ali, mas comprou uma casa na cidade, onde os filhos menores ficaram para estudar. Com o passar do tempo, toda a família muda-se para cidade e adquire um bar, onde hoje é O Boticário. Morando na cidade passou a ser imensamente conhecido. Seu bar era cheio a todo momento e com isso passou a ter uma credibilidade grande, a ponto de ser procurado para dar seu aval nos casos de possíveis candidaturas naquela que com sua grande ajuda, passou a ser uma pujante cidade.

Rosi Oliveira / Especial DS

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