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Tangará da Serra – uma jovem cidade de 43 anos

Marcos Amaral Mendes 09/05/2019 Geral

Resenha do Doutor em História, Marcos Amaral Mendes

Tangará da Serra

A ocupação da região onde está inserido o Município de Tangará da Serra foi um desdobramento da Marcha para o Oeste, política de interiorização do Governo Vargas durante o Estado Novo, e dos incentivos concedidos pelo Governo de Mato Grosso, a partir da segunda metade da década de 1940, para a ocupação do Estado. 


Na década de 1950 o Vale do Sepotuba, território ancestral do povo Paresi, foi percorrido por agrimensores do Departamento de Terras e Colonização para demarcar glebas pertencentes a adquirentes de títulos provisórios de terras, sendo estes formados, em sua maioria, por descendentes de japoneses vindos dos estados de São Paulo e do Paraná (posteriormente quase todos se desfizeram de seus títulos por causa de conflitos fundiários). Após o loteamento das glebas foi iniciada a colonização da área através de propaganda veiculada em jornais e revistas de circulação nacional que enfatizavam a fertilidade do solo, oportunidade de concretizar projetos de vida e facilidades na aquisição dos lotes. 


Em 1960, Joaquim Oléas e Wanderley Martinez fundaram a Sociedade Imobiliária Tupã para a Agricultura (SITA), empresa responsável pela colonização de Tangará da Serra a partir do loteamento das glebas Santa Fé, Esmeralda e Juntinho. Desde o início chamaram o projeto de Tangará em referência a uma espécie de ave muito comum na região. As três primeiras famílias chegaram em julho de 1959, dentre elas a do farmacêutico Erotides Rodrigues Machado. Os colonos vinham de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e do Nordeste brasileiro, atraídos pela promessa de que na gleba existiam condições ecológicas favoráveis para o plantio do café. 


A maior dificuldade enfrentada pelos desbravadores era a transposição da Serra Tapirapuã: após deixarem mulheres, crianças e a mudança em Nova Olímpia os homens marchavam a pé até Tangará da Serra durante três dias, pois não existiam rodovias que permitissem a subida da serra pelos caminhões. Entre 1961 e 1962 foi aberta, em regime de mutirão, uma estrada ligando Tangará da Serra a Barra do Bugres, mas ainda assim a subida permanecia dificultosa para as carretas. 


Tangará da Serra sob os olhos de Américo Carnevali

O projeto da cidade foi elaborado no ano de 1962 por Américo Carnevali, arquiteto de Tupã, interior de São Paulo, onde residiam os proprietários da SITA. Planejado para ocupar a Gleba Santa Fé o núcleo urbano previa ruas largas, um total de 168 quadras com dezesseis lotes cada, tendo como marco zero o Centro Cívico. 


As seis avenidas que rasgaram o centro urbano foram chamadas de Brasil, Paraná, São Paulo, Brasília, Cuiabá e Mato Grosso. As ruas, por seu turno, receberam apenas numeração para, posteriormente, homenagearem os pioneiros que trabalharam pelo desenvolvimento da cidade. 


Rico em detalhes, o plano urbanístico indicava, inclusive, os locais onde se edificariam o mercado, farmácia, hospital, rodoviária, praças, escolas, cinemas, estádio de futebol, posto de saúde, delegacia de polícia, aeroporto, entre outros. O entorno do núcleo urbano foi reservado para receber chácaras, seguidas de sítios e, mais distantes, fazendas. Compradores de lotes rurais ganhavam da colonizadora um terreno urbano, desde que assumissem o compromisso de construir residência em prazo predeterminado. Todavia, a configuração desenhada por Carnevali acabou sofrendo modificações na medida em que levas migratórias se estabeleciam em espaços não previstos na planta original. 

Lei n. 3.687 criou município de Tangará

Em janeiro de 1969, Tangará da Serra foi transformado em distrito de Barra do Bugres. Nessa mesma época, surgiu o movimento emancipacionista impulsionado pelo prefeito de Barra do Bugres, José Amando Barbosa, que defendia a transferência da sede do município para Tangará da Serra. As desavenças entre as duas localidades, que existiam desde a chegada dos primeiros colonizadores, culminaram com a sanção da Lei n. 3.687, de 13 de maio de 1976, que criou o município desmembrado de Barra do Bugres e Diamantino. O autor do projeto de lei foi o deputado José Amando, antigo prefeito de Barra do Bugres que caiu em desgraça na sede municipal ao defender a emancipação de Tangará da Serra. As indisposições entre barra-bugrenses e tangaraenses podem ser evidenciadas nos apelidos pelos quais costumavam se referir: os primeiros chamavam os segundos de macacos por morarem no platô, enquanto estes nominavam aqueles de tatus por viverem na baixada. 


A emancipação de Tangará da Serra coincidiu com a chegada de uma segunda leva migratória ao município, senda esta formada majoritariamente por famílias procedentes do Sul do País, mais capitalizadas e com experiência no trabalho agrícola mecanizado, o que transformou a região em importante polo agrícola e valorizou significativamente suas terras. 


Resenha do Doutor em História e Mestre em Geografia (UFMT), Marcos Amaral Mendes, integrante da obra “História e Geografia de Mato Grosso”, de autoria do mesmo.
 



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