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Performance “O corpo que transito” discute visibilidade trans em Tangará

Unemat Ciência 07/05/2019 Geral

As cenas são marcadas por dramaticidade e desespero, pois Sandro interpreta uma personagem trans que sofre para se encaixar socialmente

Foto: Nathali Luize

Estudantes, professores e o público em geral tiveram a oportunidade de assistir, na última sexta-feira, 3, em Tangará da Serra, a cena performativa “O corpo que transito”, do ator e professor Sandro Lucose. A cena, que foi apresentada no período da tarde no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) e, à noite, no anfiteatro do campus da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), tem como objetivo problematizar a existência do corpo transexual na contemporaneidade.


Em “O corpo que transito”, as cenas são marcadas por dramaticidade e desespero, pois Sandro interpreta uma personagem trans que sofre para se encaixar socialmente. Segundo ele, a performance tem como objetivo contribuir para desconstrução de discursos hegemônicos sobre gênero. “As artes performativas podem ser instrumentos para a reflexão sobre questões de identidades de gêneros e podem contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e diversa”, declara. 


De acordo com a professora e coordenadora do curso de Jornalismo, Marli Barboza, trazer discussões sobre transexualidade para o espaço acadêmico, faz com que a formação desses profissionais seja qualificada e promova mais inclusão na comunicação. “É muito interessante a apresentação do professor pelo olhar dele enquanto pesquisador. Ele constrói uma cena performativa para tentar mostrar para as pessoas esse sofrimento e essa dor. Essa foi a intenção da cena, a proposta é humanizar”, declara a coordenadora. 


O ator e diretor dos grupos teatrais “Nó” e “Perebas” de Nova Olímpia, Valter Lara, assistiu a performance e falou sobre o papel da arte na sociedade. “A performance ‘O corpo que transito’ é forte, necessária, atual. Eu creio que não precisa ser sutil, tem que tacar o dedo na ferida, o que a arte no modo geral já faz. Esses diálogos são mais que necessários”, declarou.


A apresentação teve a presença de vários professores e acadêmicos, como a professora de Letras, Flavia Krauss. Para ela, o espetáculo foi tocante e profundo. “A intervenção foi genial porque não precisamos ser trans para nos sentirmos sensibilizados. Mesmo sem sermos trans, é um trabalho muito difícil a construção de si próprio. A questão é que as pessoas estão apegadas a discursos prontos e não têm a menor ideia se esse discurso serve no próprio corpo, na própria vida ou não”, conta Flavia. 


Intolerância - O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo, conforme a Rede Trans Brasil, em contrapartida, é o país que mais consome conteúdo pornográfico com personagens trans. Para a professora de sociologia da Unemat, Karina Tarca, esses dados podem gerar reflexões. “Quais os espaços permitidos aos grupos LGBTS em nossa sociedade? Às transexuais? É permitido que sejam objeto de exploração sexual, mas não é permitido que sejam aceitos como qualquer cidadão? A sociedade precisa refletir sobre isso, e perceber que a questão tratada pelo viés religioso ou conservador não elimina a existência desses indivíduos e ainda reforça todas essas barreiras”, declara a socióloga.

 

O estudante do primeiro semestre de jornalismo, Ronaldo Oliveira, disse que a apresentação foi muito consciente. “Inserir essas discussões em universidades, sobretudo, aquelas que não estão concentradas nos grandes centros, é fundamental para o processo de construção de um coletivo social harmônico, respeitoso e igualitário”, reflete o estudante.


Maria Clara Machado - Além da cena performativa, Sandro lançou o livro “O teatro de Maria Clara Machado: do tablado para as escolas”, onde falou das obras da escritora infantil.  Maria Clara Machado foi escritora e dramaturga brasileira, autora de famosas peças infantis e fundadora do Tablado, escola de teatro do Rio de Janeiro. Ela morreu em 2001, aos 80 anos, mas o seu até hoje é uma referência no que diz respeito à formação de atores e a dramaturgia voltada para o público infantil. Segundo o professor, os livros de Maria Claro Machado ainda são muito atuais. “Situações em que ela fala de problemas na economia, assuntos como globalização, questões filosóficas”, conta.



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