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‘A estranha mania de ter fé na vida...': 40 Anos de ‘Maria, Maria’

Sílvio Tamura 06/11/2018 Artigos

Que as ‘Marias’ possam ser respeitadas, reconhecidas e acolhidas

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Parceria entre Fernando Brant (1946-2015) e Milton Nascimento, a canção ‘Maria, Maria’ completa em 2018, 40 anos. Gravada em 1978, a letra da música retrata a mulher brasileira, guerreira que não foge à luta, que apesar das dificuldades, não desiste da vida. Uma das mais belas composições da Música Popular Brasileira, ‘Maria, Maria’ ganhou um videoclipe para comemorar as quatro décadas de lançamento. Dirigida por Matheus Senra, a produção audiovisual é protagonizada pelas talentosas: Zezé Motta, Arianne Botelho, Georgiana Góes, Simone Mazzer, Sophie Charlotte, Jéssica Ellen e Camila Pitanga. Aclamadas pela crítica, as filmagens foram recebidas positivamente pelo público. Vale a pena assistir ao videoteipe (https://www.youtube.com/ch?v=r1bBD4f3MTc&list=RDr1bBD4f3MTc&index=1). Associando os versos às cenas, as imagens formam uma sensação sinestésica, mesclando poesia, história, melodia, problemas sociais, gênero, feminismo, miscigenação entre outros temas. Metaforicamente, ‘Maria, Maria’ representa as inúmeras ‘Marias’ pelo mundo, bem visto na frase ‘como outra qualquer do planeta’; figuras femininas que lutam por seus espaços, respeito e dignidade. Embora composta em fins da década de 70, esta poética ainda espelha fidedignamente o cenário atual. Numa das tomadas, aparecem as ‘Marias’ abraçadas, simbolicamente, expressando a necessidade de união entre elas. Juntas, todas são mais fortes. Outro take mostra as ‘Marias’ dançando de mãos dadas, reforçando os gestos de interação, companheirismo e solidariedade. Muitos defendem que esta composição musical guarda em si aspectos autobiográficos pelo fato de a mãe de Milton Nascimento também se chamar Maria (Maria do Carmo do Nascimento), pessoa de origem humilde que criou o filho com muita luta e dificuldades. Observando claramente a diferença entre as idades das intérpretes, traduz-se, figuradamente, que as adversidades enfrentadas pelas ‘Marias’ atravessam gerações. E, mesmo mergulhadas nestas conjunturas, não desistem de sonhar e acreditar. ‘É preciso ter sonho sempre. Quem traz na pele essa marca. Possui a estranha mania de ter fé na vida’. Nas diversas cenas, as atrizes ora riem, ora choram, alternando expressões faciais, transpondo da canção a sentença ‘mistura a dor e a alegria’. Narrativa cinematográfica, ‘Maria, Maria’ fotografa o cotidiano das mulheres num perfil historicista. Ícone do movimento feminista do país, este clássico do MPB ganhou inúmeros simpatizantes, eternizado também na voz de Elis Regina. Personificação da mulher brasileira, ‘Maria, Maria’ expressa a força feminina, ratificado na estrofe: ‘É preciso ter força. É preciso ter raça. É preciso ter gana sempre.’ Pés descalços na terra, as ‘Marias’ do filme representam as mulheres desfavorecidas, necessitadas de assistência social, auxílio e atenção. Fato inusitado para a época, ‘Maria, Maria’ apresentava dois compositores homens, escrevendo versos em defesa das mulheres. Num tempo em que ainda não era latente a expressão ‘empoderamento feminino’, Milton Nascimento já cantava/compunha melodias neste sentido. Que as ‘Marias’ possam ser respeitadas, reconhecidas e acolhidas. Que daqui a mais 40 anos, possamos comemorar um futuro diferente das ‘Marias’ do passado. Viva as ‘Marias’! Viva! Viva Milton Nascimento! Viva! 

Sílvio Tamura, graduado em Comunicação Institucional.

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