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Bolsonaro: de subestimado a presidente eleito

Paulo Desidério 31/10/2018 Artigos

Que quem confiou, não se decepcione; e que quem duvida, seja surpreendido

Paulo Desidério

"Eu acho que o Bolsonaro não disputa. Acho que ele não disputa e acho que não tem chance, porque (...) sinceramente eu acho que não tem chance”. Essas foram as palavras do ex-presidente e atual presidiário Luís Inácio Lula da Silva, ditas em entrevista concedida no dia 20 de julho de 2017 ao canal do jornalista José Trajano no YouTube. O agora presidente eleito, Jair Bolsonaro, foi subestimado por Lula, petistas, esquerdistas, artistas e até mesmo especialistas renomados da ciência política. 
Ciro Gomes, que concorreu à presidência pelo PDT, talvez tenha sido um dos poucos que enxergou as reais chances de vitória do capitão. Tentou unir as linhas de frente da esquerda em chapa única por vezes, mas foi ignorado. No fim das contas, a eleição ocorreu com todas as vertentes políticas – leia-se direita e esquerda – divididas, com vários candidatos, sendo 14 no total. O próprio Ciro, tarimbado na política, chegou a afirmar em dado momento da campanha que Bolsonaro era “cabra marcado para perder no segundo turno”. Subestimou, talvez estrategicamente, mas também errou. 
Com exceção das lunáticas teorias da conspiração que apontavam fraudes nas urnas eletrônicas, vitória de Bolsonaro no 1º turno (algo quase impossível em cenários polarizados), eu também subestimei o novo presidente. Não imaginava que a força visível em MT, conservador historicamente, estivesse também com enorme potência em estados dominados por outras siglas partidárias ao longo das eleições que já havíamos tido até então. O resultado do primeiro turno já serviu para deixar isso muito claro e encaminhou o do 2º. Com ou sem facada, Bolsonaro venceria.
A eleição foi decidida muito antes de acontecer. Os escândalos de corrupção envolvendo o PT, a prisão de Lula e a insistência em sua imagem, a postura antidemocrática de parte da militância, o vitimismo discursivo, a arte de negar qualquer acusação contra o partido, o egoísmo jogar sabendo que perderia, o ar de superioridade de alguns que se sentem mais inteligentes que os outros. Tudo isso pesou, merecidamente. 
Faltou humildade. Logo, quem entrou tetracampeão, saiu da amassado por quem sequer havia competido. Jair não é salvador da pátria e, assim como Haddad, não representou para mim a melhor opção. Mas, mesmo com o terrorismo de parte a parte na campanha calcado no discurso divisório, foi um fenômeno eleitoral. Quem não reconhece isso é cego. A vontade da maioria foi feita. Que quem confiou, não se decepcione; e que quem duvida, seja surpreendido. 

Paulo Desidério é redator

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