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MISS INFANTIL

Leandro Monteflores 03/09/2018 Artigos

Muito provavelmente, esses pais nunca se perguntaram se tal atitude não seria, na verdade, a projeção de algum anseio ou expectativa não concretizada

Leandro Monteflores

Maquiagem carregada, vestidos brilhantes, laquê nos cabelos, pele bronzeada e depilada, cílios postiços. Tudo isso acompanhado da pressão em ser a grande escolhida. Ser a mais bela e talentosa. Estes são os concursos de beleza infantil que têm se tornado cada vez mais comuns no Brasil.
Refleti sobre esse tema após assistir um capítulo do seriado “Pequenas Misses” exibido pelo canal Discovery.  Neste programa, a cada dia é mostrado o cotidiano de uma candidata estadunidense, sua preparação para o concurso e seus “truques de beleza”. As crianças retratadas neste seriado têm idades entre 2 e 10 anos. Mas quais seriam as consequências desse tipo de exposição na vida de meninas tão pequenas?
De acordo com o seriado, fomentados pelo desejo de que suas filhas alcancem o “tão sonhado”  título, pais e mães investem tempo e dinheiro na preparação delas. E, ainda afirmam com veemência, que tudo é feito porque é a vontade da criança, tentando atribuir uma conotação lúdica e de divertimento para justificar a participação.
Muito provavelmente, esses pais nunca se perguntaram se tal atitude não seria, na verdade, a projeção de algum anseio ou expectativa não concretizada da parte deles feita diretamente na criança. Tampouco, sobre o mal que poderiam causar às suas filhas a longo prazo, pois estudos apontam que a maioria das crianças que participa de concursos de beleza pode vir a ter problemas de aceitação e de auto-imagem. Será que estas crianças realmente têm escolha?
Há também a questão da erotização precoce dessas meninas. Nas competições de beleza infantil, o que se vê são garotinhas utilizando trajes de banho e desfilando como se fossem mulheres adultas, sem apresentar qualquer traço da idade que realmente tem. No artigo “Meet the pré-teen beauty addicts”do jornal britânico Daily Mail ilustra tal afirmação, pois contém trechos de conversas em uma comunidade de pedófilos que cita uma candidata do Reino Unido de apenas 11 anos e seus “atributos”.
Concursos de miss infantil ensinam, infelizmente, desde cedo às crianças que, neste mundo, em nossa sociedade, os mais belos valem mais que os mais feios. Deixando um trauma no coração do pequenino  perdedor desses concursos, pois ainda são incapazes de compreender as diferenças entre si e a criança que o venceu. 
Criança tem que estudar, brincar e dormir. Competir? Só se for nas gincanas esportivas ou matemáticas.
                                                                                                                                  

 

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