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Olinda Soares dos Santos Expressão viva de alegria

Iolanda Garcia / Rodney Garcia 09/06/2018 Memória
Memória

Nascida em 15 de maio de 1960, na cidade de Junqueirópolis - SP, de um total de 12 irmãos, ela sendo nona filha do casal mineiro: Germino e Ambrosina. Aos cinco anos de idade junto com a família se mudou para Paranavaí - PR e em 1970 veio para Tangará da Serra – MT. “Nossa vinda para Tangará foi em cima de caminhão pau-de-arara. Nós atravessamos o Rio Paranazão de balsa, pensa num sofrimento e, ao mesmo tempo, um divertimento, aquele tanto de gente, muita molecada”, relembra Olinda entre risos.

A família veio para terras tangaraenses a convite do esposo da irmã mais velha de Olinda. “Minha irmã Cida, quando tinha 15 anos, fugiu da casa de meus pais, no Paraná, com o Zé Japonês e vieram para Tangará, foi meu cunhado que chamou meu pai para mudar para cá em busca de melhoria de vida”. Ao chegar aqui, foram morar no sítio do seu Almerindo Cotrin, depois no sítio de Seu Domingos e, mais tarde, conseguiram comprar um pedaço de terra na região Córrego do Cedro.

O sítio foi desbravado pelo pai e pelos irmãos mais velhos, pois era todo mata. Além da terra própria, a família arrendou mais cinco alqueires do senhor João Garcia Parro para aumentar a renda da grande família e garantir o sustento. “Naquela época, todo mundo trabalhava na roça, grandes e pequenos, não ficava ninguém desocupado em casa,” destacou.

Peraltices da infância Olinda conta que teve uma infância muito divertida com os irmãos e com os amigos, “Eu gostava muito de brigar e fazer arte. Eu gostava de jogar coisas nos meus irmãos; às vezes eu apanhava, mas também batia muito na molecada”.

Em seus estudos iniciais frequentou a escola municipal Santo Antônio, na Reserva, teve como professores Dona Iracema Casagrande, a Nozinha e seu Álvaro Casagrande; além dos professores, ela lembra das peraltices nos caminhos da escola: “Eu brigava muito no caminho da escola e roubava frutas nas roças”. Mas nem sempre se dava bem: “Eu tinha muito medo de lagarta. Quando foi um dia na volta da escola eu e minha amiga fomos roubar melancia na roça do professor Álvaro, de repente ele apareceu gritando e nós nos escondemos no meio de um pau podre, que estava cheio de coró, e eu não sabia se ficava no meio dos bichos ou se saia para o dono da roça me pegar. Passei o maior apuro. Mas fiquei escondida, chorando, até que ele foi embora e nós fomos para casa”.

Dentre as peraltices contou que aprontou com dona Quitéria, a costureira da região. “Um dia eu e minha amiga fomos roubar laranja no pomar de dona Quitéria, de repente as galinhas ficaram espantadas e o marido dela veio ver o que estava acontecendo e nos descobriu com os ‘imbornais’ cheio de laranja. Ele fez a gente devolver todas as laranjas que havíamos pegado e botou a gente para correr de lá. Minha amiga tinha escondido 4 laranjas na bolsa da escola. Nós saímos correndo de perto dele e quando estávamos longe mostramos as laranjas que conseguimos roubar”. Nem sempre tinha sucesso nas travessuras e, às vezes, se dava mal. “Outra vez, eu e Maria José, minha companheira de arte (filha de seu Jacinto) saímos para ir à escola, no caminho resolvemos roubar goiaba no quintal de dona Dalva (mãe do João Negão) e quando a gente estava em cima do pé de goiaba, dona Dalva soltou os cachorros bravos que ela tinha, esses cachorros latiam embaixo do pé de goiaba e nós chorávamos lá em cima. Depois de um bom tempo, arrumamos coragem para pular de lá, só que tínhamos que cair do outro lado da cerca de arame para nos livrarmos dos cachorros. Pulamos, mas nos cortamos todas no arame.

Nesse dia chegamos atrasadas na escola e a professora, Dona Ercília, fez um bilhete para meus pais, mas como eu era muito respondona e danada, no caminho tomei o bilhete de minha irmã Maria Rosa e não entreguei para meu pai, me livrando de uma bora surra”.

Olinda conta histórias que emendam uma na outra, sempre achando graça de tudo e dizendo que aprendeu muito com a vida e com seus pais, apesar de ter aprontado muito com eles. Juventude e trabalho Olinda conta que gosta de conversar, contar histórias e está sempre rodeada de amigos e que quando ia aos bailes, amanhecia dançando e tocando violão.

Porém, as peraltices continuavam: “eu gostava de tocar violão e dançar. Os bailes eram na casa dos colegas, quando meu pai não deixava ir ao baile, eu pulava a janela de casa e ia junto com meu irmão e dançava a noite inteira”. Lembra também das muitas serenatas que participou. Em meados da década de 70, Olinda e a família vieram morar no perímetro urbano de Tangará.

Quando completou 16 anos, ela e a irmã Rosalina, foram trabalhar na fábrica da Tubaína Tupi de, propriedade da Ondina (Casa Popular) e do Bila. Olinda foi mãe de Aline, única filha, e cuidou dela o tempo todo quando criança, vindo trabalhar fora quando seu esposo adoecera. Depois, trabalhou como doméstica e, mais tarde, foi cozinheira no Hospital das Clínicas. Ficou viúva e assumiu toda a responsabilidade da casa e os cuidados com a filha. Mais tarde, passou no concurso público municipal para serviços gerais, desempenhando funções de limpeza, de cozinheira em algumas escolas municipais. Foi cozinheira, por alguns anos, na escola municipal Gentila Susin Muraro onde era muito querida pela comunidade. Tia linda do portão Hoje, Olinda trabalha no CME Dom Bosco, e por lá é conhecida por todos como “Tia Linda.” Ela é responsável por receber e entregar a criançada aos pais e por cuidar dos mesmos quando estão no pátio.

Sempre disposta a ouvir, faz papel de conselheira para os adolescentes e diverte os menores. Tia Linda conta histórias, brinca com a meninada e adora fazer palavras cruzadas e crochê. Na semana de contação de história realizada na escola pelo projeto Quem canta e conta o mundo encanta, tia Linda teve participação especial contanto a história de João e Maria.

Sua família é tudo. Está casada com Luiz, quem ama de paixão, sem esquecer é claro da filha Aline e do neto Gustavo. Para além do núcleo familiar que constituiu, vivem em Tangará seus irmãos e irmãs, sobrinhos e sobrinhas que formam a grande família que ajudaram a construir essa cidade e, ao mesmo tempo, conseguiram realizar o sonho dos pais que era de prosperar nessa terra chamada Tangará da Serra, lugar que vislumbraram para viver.

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